Durante o primeiro mandato de Donald Trump, enquanto o mundo se reconfigurava frente à primeira grande guerra comercial entre Estados Unidos e China, o Brasil permaneceu como espectador, quando deveria estar no centro das negociações. Agora, surge uma segunda oportunidade. É evidente que o País demorou a reconhecer a urgência de diversificar os parceiros comerciais. Enquanto outras economias se posicionavam estrategicamente, seguimos presos ao vaivém entre protecionismo e abertura, como se estivéssemos imunes ao compasso do relógio geopolítico.
A negociação com a União Europeia (UE) representa um avanço nesse tabuleiro. Após duas décadas de tratativas e reviravoltas, o acordo parece, finalmente, próximo de se concretizar. Os números impressionam: são 31 economias integradas, 718 milhões de consumidores e um Produto Interno Bruto (PIB) combinado de US$ 22 trilhões. A UE já figura como o nosso segundo maior parceiro comercial, respondendo por 16% das trocas externas nacionais (US$ 95,3 bilhões só em 2024). No entanto, seguimos arcando com tarifas que concorrentes diretos, inseridos em acordos preferenciais, não enfrentam. Quando (e se) o tratado for ratificado, áreas como a do Agronegócio e da Tecnologia poderão, enfim, acessar com mais competitividade o segundo maior mercado do mundo.
Pouco se comenta, mas o setor de Serviços é um dos pilares desse acordo. Em 2023, o segmento movimentou US$ 2,9 trilhões apenas na UE. Atualmente, o Brasil mantém um fluxo modesto de US$ 14,2 bilhões com os europeus — sinal claro de um potencial inexplorado. Áreas como Tecnologia da Informação (TI) e Logística poderiam ser alavancas para superar a condição de mero exportador de commodities, mas falta ao País uma diretriz estratégica clara. É preciso acelerar esse movimento.
Diante de uma nova configuração econômica global, todos buscarão alternativas. Esse redesenho abre oportunidades, mas também impõe riscos: se o Brasil não agir com agilidade, outros ocuparão os espaços disponíveis e se protegerão melhor das incertezas. A abertura comercial — da qual o acordo com a UE é um marco — tornou-se inadiável. Não se trata de promover uma liberalização indiscriminada, principalmente em um mundo cada vez mais protecionista, mas de estruturar uma abertura inteligente, que contemple segmentos estratégicos, como bens de capital, TI e máquinas.
O Brasil precisa integrar-se às novas cadeias globais de valor, sob pena de continuar marginalizado no comércio internacional. Nossa participação nas correntes internacionais é irrisória, seja em termos absolutos, seja em proporção ao nosso PIB. As escolhas do passado nos levaram a uma Indústria envelhecida e defasada, com exceção do setor agrícola — o único que conseguiu se modernizar e ganhar escala internacional. É hora de avançar, e o momento é agora.
Fonte: Contábeis